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Um lugar verde para morar
Depois de prédios de escritórios, agora é a vez de os imóveis residenciais buscarem o selo de sustentabilidade. Custa mais caro construí-los, mas viver neles sai mais barato.
O empresárop Marco Antonio Bozouian e sua esposa, Karina, publicitária, pesquisaram um punhado de imóveis antes de decidir onde seria sua casa nova. A escolha recaiu sobre um apartamento de duas suítes e 120m², à época ainda na planta, no edifício Príncipe de Greenfield, no bairro de Mont’Serrat, próximo ao centro de Porto Alegre. Um dos motivos que pesaram na decisão do casal se deve ao fato de o prédio, concluído no ano passado, ter sido um dos primeiros projetos residenciais do país a buscar a certificação de construção sustentável. O edifício recebeu o selo Leed, concedido pela representação brasileira da ONG americana Green Building Counci. O selo Leed é respeitado em todo o mundo como uma garantia de que a construção tem uma série de características que a tornam amiga do planeta. “Quando vimos a possibilidade de morar em um lugar que abraçasse o conceito de sustentabilidade, achamos que tinha tudo a ver com o que buscávamos”, diz Bozouian. O empresário não foi o único a se entusiasmar pela ideia de morar em um prédio verde. Segundo a contrutora Joal Teitelbaum, os apartamentos do Príncipe de Greenfield form vendidos a um ritmo seis vezes mais rápido que o observado em prédios similares em Porto Alegre que não possuem a certificação de sustentável.
No Brasil, os edifícios comerciais há tempos buscam os chamados selos verdes. O mercado de construções sustentáveis já está consolidado no país, o quarto no mundo em número de prédios certificados ou em processo de certificação – só perde para os Estados Unidos, a China e os Emirados Árabes Unidos. No ano passado, havia 434 edifícios certificados ou com pedido de certificação no Green Building Council Brasil, um aumento de 83% em relação a 2010. Ao Aqua, este concedido pela Fundação Vanzolini, ligada à Escola Politécnica da Universidade de São Paulo. A novidade é que os edifícios residenciais têm contribuído para esse aumento. “No passado recente, muitos conceitos de sustentabilidade vazios ou enganosos foram usados no mercado imobiliário”, comenta o engenheiro Luiz Henrique Ferreira, diretor da Inovatech, empresa que presta consultoria para construtoras obterem a certificação ambiental. “Hoje, a demanda é por mais transparência também no setor residencial”, ele completa.
Dos 556 edifícios certificados ou em processo de certificação pelo Green Building Council Brasil, dezoito são residenciais – catorze em São Paulo. A Fundação Vanzolini avaliza 43 empreendimentos, dos quais sete são residenciais. No início de agosto, a construtora Even anunciou um acordo com a fundação pelo qual todos os empreendimentos residenciais lançados na região metropolitana de São Paulo (mercado que representa 80% dos negócios da empresa) serão concedidos e construídos de acordo com os critérios de certificação Aqua. “Em pesquisas que fizemos com nossos clientes, constatamos que 60% deles dão valor ao quesito sustentabilidade, tanto na hora da aquisição quanto depois, no dia a dia”, diz Carlos Terepins, presidente da construtora. Em setembro, o Green Building Council Brasil vai lançar no país um selo de certificação para casas residenciais. As exigências para obtê-lo serão similares àquelas usadas nos edifícios e seguirão modelo adotado em países como Japão, Inglaterra, Arábia Saudita e Estados Unidos – a associação já certificou 22700 casas desde 2008.
Um prédio com as características necessárias para a certificação sustentável sai mais caro para ser construído do que um edifício convencional. São necessários dois sistemas hidráulicos separados – um para a água que vem da rua e outro para a água de reuso, que capta, armazena e trata a água da chuva, utilizada apenas na limpeza e nos vasos sanitários. Elevadores de maior eficiência energética custam 25% a mais do que os convencionais. Os vidros duplos, que promovem isolamento térmico afim de limitar o uso de ar condicionado, também são mais caros. Na ponta do lápis, dependendo da dimensão das medidas adotadas, a construção do prédio encarece entre 1,5% e 5%. Também por isso os apartamentos sofrem uma valorização no preço de venda e aluguel da ordem de 15%.
Fonte: Revista Veja